O Jiu Jitsu Brasileiro (BJJ – Brazilian Jiu Jitsu) é uma das artes marciais que mais crescem no mundo. Atletas de todas as idades e de todas as esferas da vida praticam a arte suave por vários motivos, incluindo autodefesa, condicionamento físico, hobbie, alívio do estresse e diversão. E, embora tenha chegado recentemente à consciência pública devido à popularidade de competições do MMA, como o Ultimate Fighting Championship (UFC) e ONE Championship, as origens do Jiu Jitsu podem ser rastreadas por vários séculos.
A Origem do Jiu Jitsu
A história do Jiu-Jitsu começa no Japão, onde uma forma inicial de Jiu-Jitsu (chamada de Ju-Jitsu) foi desenvolvida com a finalidade de ser usada no campo de batalha pelos samurais japoneses. Esses guerreiros, que travaram batalhas armadas a cavalo, desenvolveram o Jiu-Jitsu como a última linha de defesa no caso em que se encontravam desarmados e em marcha. No entanto, a armadura pesada usada pelo samurai restringia sua mobilidade, fazendo com que estrangulamentos, fechaduras e manobras fossem preferíveis às técnicas de ataque. Com o tempo, o Jiu-Jitsu japonês se ramificou em vários estilos diferentes, com o foco mudando gradualmente do combate armado para a autodefesa geral. E enquanto cada estilo diferia em certos aspectos, o foco em submissão, estrangulamentos e ataques nas articulações continuava sendo um tema constante. O estilo de um homem, no entanto, com ênfase na eficiência máxima e no esforço mínimo, acabaria por se elevar acima do resto.
Mitsuo Maeda e a família Gracie
Mitsuo Maeda começou a treinar no Kodokan (primeira escola de judô, fundada no Japão) em 1894, tornando-se um dos melhores alunos de Jigoro Kano. Embora bem versada em arremessos e quedas, a especialidade de Maeda era luta no chão, também conhecida como newaza. Em 1914, Maeda viajou para o Brasil, onde fez amizade com um empresário chamado Gastão Gracie. Maeda acabaria por aceitar o filho de Gastão, um adolescente chamado Carlos Gracie, como aluno. Carlos estudou o estilo de judô de Maeda por newaza (conjunto de várias técnicas das artes marciais japonesas) por vários anos, eventualmente compartilhando seu conhecimento com seus irmãos mais novos. Um de seus irmãos, Hélio, teve dificuldade em executar as técnicas de judô devido ao seu tamanho reduzido e falta de força. Consequentemente, ele começou a fazer ajustes nas técnicas de judô que havia aprendido, refinando-as até que pudessem ser aplicadas por qualquer pessoa, independentemente do tamanho ou força. Foi a partir dessas inovações que BJJ nasceu a famosa “Arte suave, de quebrar ossos“.
Ao longo dos anos, a família Gracie testou e aperfeiçoou a arte do Jiu-Jits através da participação em desafios – disputas com poucas regras que colocavam os Gracies e seus alunos contra praticantes de outras artes marciais. Os Gracies raramente perdiam.
A arte do Jiu-Jitsu continuou a evoluir ao longo dos anos, eventualmente incorporando aspectos do wrestling e outras artes de luta no currículo. No entanto, o Jiu-Jitsu permaneceria relativamente desconhecido fora do Brasil até o filho de Hélio, Rorion, imigrar para os Estados Unidos para espalhar a arte do Jiu-Jitsu – um movimento que mudaria para sempre a maneira como o mundo via a arte de lutar.
A história do Grão-Mestre Hélio Gracie
Já com seus 16 anos de idade, Hélio viu a oportunidade de dar aulas de Jiu Jitsu pela primeira vez. Seu irmão mais velho Carlos, havia marcado uma aula com o então diretor do Banco do Brasil na cidade maravilhosa. Porém, quando o aluno chegou, o professor estava atrasado. Hélio então se prontificou a cobrir sua ausência, já que conhecia a arte há um bom tempo. Quando Carlos chegou, pedindo desculpas pelo atraso, ficou surpreso com a reação do seu aluno. O caçula havia dado uma excelente aula, mesmo sem a prática do Jiu Jitsu.
Foi então que Carlos permitiu que o jovem se torna-se um dos instrutores do “Clã dos Gracies”, junto com seus irmãos. Devido a sua dificuldade em executar certos movimentos do Jiu Jitsu de Conde Koma, Hélio buscou adaptá-lo. A força e a rapidez, que eram essenciais para a execução dos movimentos, foram trocadas pelo uso do peso corporal e controle. E foi através da tentativa e falha, que Hélio transformou as alavancas do Jiu Jitsu. Nasce aí, o Brazilian Jiu Jitsu que conhecemos hoje.
Ao longo dos anos, o BJJ foi se moldando em direção ao que é hoje. Porém, Hélio sempre foi muito enfático em sua visão da arte suave.
Hélio Gracie, de instrutor a lutador
Mas não foi apenas por otimizar as alavancas do Jiu Jitsu que Hélio ficou famoso. Assim como Royce fez na década de 90, enfrentando lutadores maiores e de outras artes marciais, Hélio também “peregrinou” de forma a provar a eficiência da sua arte.
Essa missão iniciou em 1932 quando Gracie encarou o então boxeador profissional Antônio Portugal. A luta durou apenas 30s e terminou com uma finalização, para a surpresa do pugilista. Em seguida, Hélio enfrentou o americano Fred Albert por nada menos que 14 rounds de 10 minutos! Depois de mais de 2 horas de combate, a luta foi interrompida pela polícia.
Mas a grande popularização dos duelos veio a partir da rivalidade entre a Família Gracie e os judocas. Talvez o combate mais famoso na época foi contra o judoca Masahiko Kimura.
Royce Gracie e o Ultimate Fighting Championship (UFC)
Rorion Gracie chegou aos Estados Unidos no final dos anos 70. Ansioso por expor o público à arte de sua família e inspirando-se nos desafios que vinham ocorrendo no Brasil desde a fundação do Jiu-Jitsu, Rorion e um parceiro de negócios começaram a lançar as bases para um torneio de artes marciais destinado a demonstrar a eficácia do Jiu-Jitsu. Este torneio, que eles batizaram de Ultimate Fighting Championship (UFC), tinha poucas regras e punha artistas marciais de várias disciplinas um contra o outro em um torneio de eliminação única por uma noite. Confiante na arte de sua família, Rorion acreditava que o UFC seria a vitrine definitiva para o Jiu-Jitsu.
O primeiro UFC (UFC 1) aconteceu em 1993, e Rorion nomeou seu irmão mais novo, Royce, como representante de Jiu-Jitsu no torneio. Rorion acreditava que Royce, com sua aparência de bad boy e atitude despretensiosa, era a pessoa ideal para apresentar a eficácia do Jiu-Jitsu ao mundo. Quando o torneio começou, Royce, o menor participante do evento, dominou oponente após oponente, chocando os espectadores que esperavam que o pequeno brasileiro de kimono branco fosse facilmente derrotado. Para muitos, a vitória de Royce foi uma revelação, era realmente possível derrotar oponentes maiores e mais fortes com o uso adequado de técnica e alavancagem. Royce venceria os próximos eventos do UFC, e artistas marciais de todo o mundo começariam a procurar instruções na arte do Jiu-Jitsu. Após vários séculos de desenvolvimento, a revolução do Jiu-Jitsu havia começado.
Federação Internacional de Jiu Jitsu
Em outra frente, Carlos Gracie Jr. seguiu a obra do pai na organização dos campeonatos e no fortalecimento da arte como esporte regulado. Estava criada, assim, em 1994, a Federação Internacional de Jiu-Jitsu, assim como a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro, que hoje promovem torneios para mais de 3 mil atletas de mais de 50 países, como o Campeonato Mundial, realizado anualmente desde 1996.
Ao modificar as regras internacionais do Jiu-Jitsu japonês nas lutas que ele e os irmãos realizavam, Carlos Gracie iniciou o primeiro caso de mudança de nacionalidade de uma luta, ou esporte, na história esportiva mundial. Anos depois, a arte marcial japonesa passou a ser denominada de Jiu-Jitsu brasileiro, sendo exportada para o mundo todo, inclusive para o Japão.